“O homem nada mais é do que aquilo que faz de si mesmo.” — Jean-Paul Sartre
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A frase de Sartre é mais do que um aforismo existencialista. É uma sentença de responsabilidade.
Em tempos de automatização, inteligência artificial e modelos prontos de sucesso, ela soa quase como um desafio: você está vivendo a vida que escolheu ou apenas a que sobrou para você?
Por que falar disso no mundo corporativo
No ambiente empresarial, é comum ouvir que “o mercado molda o profissional” ou que “a empresa define quem você é”. Mas Sartre inverte essa lógica: somos nós que nos fazemos — nas escolhas diárias, nas decisões difíceis, nas renúncias e nas atitudes diante do imprevisto.
A liderança autêntica nasce justamente dessa consciência.
Um líder que entende que “é o que faz de si mesmo” não terceiriza culpas, não se esconde atrás de cargos e não se define por organogramas. Ele se constrói a partir da ação, da coerência e da responsabilidade.
O que Sartre quis dizer
Sartre, o principal pensador do existencialismo, acreditava que o ser humano nasce sem essência pré-definida. Não há um destino, uma natureza ou um “manual” que determine quem devemos ser.
A essência é construída pela ação.
Cada escolha — grande ou pequena — é um tijolo que erguemos na construção de quem somos.
Quando deixamos de escolher, também escolhemos: escolhemos a omissão.
E essa talvez seja uma das maiores armadilhas no mundo corporativo moderno: a inércia travestida de estabilidade.
Aplicação prática na liderança
Líderes formados em tempos de mudança constante enfrentam uma tensão diária entre controle e liberdade.
A filosofia sartreana nos lembra que liberdade não é fazer o que se quer — é assumir a responsabilidade por aquilo que se faz.
Um líder que reclama da cultura da empresa, mas não propõe nada.
Um profissional que se diz sem oportunidades, mas não busca novas competências.
Um executivo que critica o mercado, mas não inova em seu próprio modelo mental.
Todos esses exemplos ilustram o oposto da ideia de Sartre: a fuga da liberdade.
E é justamente quando fugimos dela que passamos a viver “de fora para dentro”, reagindo ao mundo, em vez de criá-lo.
Exemplo real: o executivo e o espelho
Recentemente, em um processo de mentoria, acompanhei um diretor financeiro que dizia sentir-se “preso” ao modelo da empresa. Reclamava das decisões do CEO, da falta de meritocracia e da lentidão dos processos.
No entanto, quando perguntei o que ele estava fazendo de si mesmo naquele contexto, ele silenciou.
Após semanas de reflexão, percebeu que esperava mudança externa sem agir internamente.
A virada aconteceu quando decidiu ser o agente transformador que esperava dos outros. Começou a liderar projetos de melhoria, a ouvir mais o time e a dar visibilidade ao que podia controlar.
Em pouco tempo, não apenas sua área se transformou — ele mesmo se reinventou como líder.
Exemplo na mitologia: Prometeu e o fogo
A mitologia grega traz uma metáfora poderosa: Prometeu rouba o fogo dos deuses para entregá-lo aos homens.
Esse ato simboliza a conquista da consciência — o poder de criar, decidir e transformar.
Sartre, de certa forma, ecoa esse mito.
Cada um de nós carrega um “fogo interno” capaz de moldar o próprio destino.
Mas poucos têm coragem de assumi-lo — porque o fogo ilumina, mas também queima.
O risco de não escolher
Não escolher é mais confortável.
Seguir o manual da empresa, o modelo de sucesso dos outros, ou o script da sociedade é mais fácil.
Mas o preço disso é alto: a perda da autenticidade.
E no mundo corporativo, autenticidade é o novo diferencial competitivo.
Líderes que sabem quem são — e que assumem suas escolhas — inspiram confiança.
Profissionais que vivem de forma reativa — mudando conforme a conveniência — perdem credibilidade e propósito.
Reflexão para líderes e profissionais
A frase de Sartre convida a uma pergunta essencial:
👉 O que você está fazendo de si mesmo neste momento da sua carreira?
Não se trata de grandes planos futuros, mas das pequenas decisões cotidianas:
- Como você reage ao erro?
- Como trata quem pensa diferente?
- Quais valores sustentam suas escolhas?
- O que você deixa de ser cada vez que evita um conflito necessário?
Essas respostas revelam mais sobre sua liderança do que qualquer currículo.
Recomendações práticas
Para quem deseja aplicar essa filosofia no dia a dia corporativo:
- Assuma responsabilidade total.
Pare de culpar o mercado, a empresa ou o chefe. Tudo o que você aceita sem agir, você autoriza. - Construa sua essência por ação.
Liderança não é discurso — é prática. São as atitudes repetidas que definem quem você é. - Revisite suas escolhas.
O que te trouxe até aqui foi o que você escolheu (ou deixou de escolher). Se quer novos resultados, escolha diferente. - Viva com coerência.
Sartre dizia que “a má-fé é a tentativa de negar a própria liberdade”. Em outras palavras: não minta para si mesmo. - Transforme sua liberdade em legado.
Um líder não é aquele que tem poder, mas aquele que inspira outros a fazerem-se a si mesmos.
E…a provocação
No fundo, Sartre nos entrega um espelho.
Tudo o que somos é resultado daquilo que escolhemos ser — inclusive o silêncio, o medo e a omissão.
No mundo corporativo, onde é tentador culpar o sistema, a cultura ou o mercado, essa frase é um lembrete incômodo e libertador:
Você é o CEO da sua própria existência.
E a pergunta que fica é:
O que você está fazendo de si mesmo — e o que ainda pode se tornar?