Ao longo de mais de três décadas no topo de multinacionais, vivi de perto as glórias e as dores de liderar. De CFO a CEO, experimentei o peso das decisões, o impacto das minhas atitudes sobre pessoas e resultados, e descobri – muitas vezes da maneira mais dura – que liderança verdadeira não está nos números, mas no legado que deixamos nas vidas que tocamos.
Neste artigo, compartilho minha jornada: as conquistas, as quedas, as perdas pessoais e os aprendizados que me transformaram de um executivo focado apenas em resultados em um mentor comprometido com o desenvolvimento humano no mundo corporativo.
Aos 34 anos, eu acreditava ter chegado ao topo. CFO de uma multinacional, escritório amplo, carro da empresa, viagens internacionais, status. Por fora, sucesso. Por dentro, um vazio que eu só reconheceria anos depois.
MINHA HISTÓRIA
Raízes: da Mooca para o mundo
Sou filho de pais alemães que chegaram ao Brasil ainda crianças, quando meus avós decidiram fugir do nazismo em ascensão. Cresci na Mooca, bairro paulistano de raízes alemãs e italianas, onde aprendi cedo que trabalho duro é dignidade e resiliência é herança.
Sonhava ser engenheiro, mas a necessidade de trabalhar cedo falou mais alto. Escolhi cursar Administração de Empresas na ESAN (PUC) como um caminho mais prático para o mercado.
🎓 Jovem idealista e o primeiro contato com o mundo corporativo
Na faculdade, acreditava que poderia mudar o mundo. Em minhas atividades no Centro Acadêmico, debatíamos política, economia e futuro.
No meu primeiro emprego, trabalhando com Karl Heinz Hoffmann, um consultor alemão, lembro-me de visitar sedes de grandes multinacionais e, com brilho nos olhos, dizer: “Quero ser presidente de empresas.”
Hoffmann me olhou firme e disse: “O melhor caminho – e o mais difícil – é através da área de finanças pois é a area que lhe dará uma visão holística da organização”
🏁 General Electric: o campo de treinamento
Seguindo o conselho, no último ano de faculdade, ingressei como trainee no cobiçado programa de treinamento em finanças da General Electric: o Financial Management Program (FMP). Foram três anos de aprendizado intenso, pressão constante e uma imersão profunda no funcionamento de uma grande organização.
Concluí o programa com destaque e, imediatamente, fui promovido a Gerente de Relatórios e Análises Financeiras na area de Controladoria. Nos 12 anos na GE, conclui meu MBA e ocupei diversos cargos de gerência, desenvolvendo uma visão integral dos negócios — só que eu ainda não compreendia o papel humano nas organizações e seus reflexos na liderança.
⚡ Black & Decker: quando o ego fala mais alto
Aos 34, tornei-me CFO da Black & Decker Brasil. Dominava números, estratégias e negociações. Mas era arrogante, inflexível e acreditava que liderar era ter todas as respostas e “entregar resultados”. Eu tinha todas as competências técnicas (hard skills), mas nenhuma habilidade no trato com pessoas (soft skills).
Três anos depois, fui demitido. Na época, senti grande frustração mas, após muito refletir, entendi que minha demissão deveu-se única e exclusivamente ao fato de não saber transitar no ambiente corporativo e, também, não sabia como lidar com pessoas. Hoje, vejo aquele momento como meu maior ponto de inflexão e aprendizado.
🌱 Valeo e Coldex Frigor: aprendizados a partir da dor
Posteriormente, atuando como CFO na Valeo e na Coldex Frigor, comecei a reconstruir minha carreira e, mais importante, a mim mesmo. Trabalhar com o querido e saudoso Paulo Francini foi um presente; com ele, aprendi que resultados sustentáveis só vêm com respeito e propósito.
TI Group: evolução, não revolução — e a maior promoção da minha carreira
No TI Group, assumi como VP de Finanças para América Latina. Recebi um conselho britânico que ecoa até hoje: “Faça uma evolução, não uma revolução.”
Aprendi a liderar mudanças com respeito, autocontrole e inteligência emocional.
Três anos depois, fui promovido a CEO para América Latina — cargo que ocupei por 7 anos — liderando operações no Brasil, Argentina, Colômbia, Venezuela e México. Sob minha liderança, a região alcançou um crescimento expressivo de receitas e EBITDA.
Mas fora do escritório, a vida me testou: aos 43 anos, perdi o amor de minha vida, minha querida esposa Iza que me foi tirada em decorrência de um tipo de câncer extremamente agressivo. Naquele momento, pai de quatro filhos, precisei definir prioridades e equilibrar vida profissional com vida pessoal. Abri mão de uma carreira internacional na Europa para cuidar da minha família. Foi uma das decisões mais difíceis — e mais humanas — da minha vida.
🚚 Syncreon: inovação na logística e tecnologia
Depois de deixar o TI Group, onde permaneci por 10 anos, ingressei na Syncreon Logistics, uma empresa atuante no mercado automotivo e, posteriormente, na distribuição de produtos Apple no Brasil.
Foram sete anos liderando operações desafiadoras em “inbound logistics” e distribuição de produtos de tecnologia. Ali, aprendi a importância da agilidade organizacional e de liderar equipes diversas em um setores altamente dinâmicos.
Entendi, mais uma vez, que resultados extraordinários só acontecem quando líderes criam um ambiente onde as pessoas se sentem seguras para inovar e errar.
🚀 Ingersoll Rand: engajamento e legado
Como presidente de território na Ingersoll Rand ( divisões Trane Technologies e ThermoKing), enfrentei o desafio de reverter um índice de engajamento de apenas 18%. Em três anos, ele saltou para 85%. Vendas cresceram 40% e o EBITDA, 120%.
Mas o maior legado não foram os números. Foi ver pessoas voltando a acreditar na empresa e em si mesmas.
Mais uma vez, a vida trouxe mais um desafio devastador: perdi minha filha Juliana após seis anos de luta ingrata contra o câncer. Essa dor profunda me mostrou, com clareza definitiva, o que é realmente essencial. Era hora de deixar o mundo corporativo e viver meu propósito
💡 Minha segunda carreira: propósito encontrado
Entendi que através de minha vivencia no mundo corporativo poderia ajudar executivos no desenvolvimento de suas carreiras e fui buscar formação em coaching no Erickson International e no Instituto Holos além de ser um leitor compulsivo sempre em busca de informações e conhecimento.
Hoje, como mentor e coach executivo, ajudo líderes a desenvolverem não apenas hard skills, mas principalmente as soft skills que transformam carreiras e vidas.
Também, juntamente com meu amigo Renato Grinberg, fundamos o INXCL group que congrega grupos de CEO´s e empresários para troca de ideias, experiencias reais e mentoria executiva
Com mais de 4000 horas de mentoria, posso afirmar com convicção:
“Minha ocupação atual como mentor/coaching executivo não é uma segunda carreira. É minha catedral, que foi construída com os tijolos que colecionei ao longo da vida”
🏆 O que aprendi sobre liderança verdadeira?
✅ Liderança não é sobre poder, é sobre serviço.
✅ Não é sobre falar, é sobre ouvir.
✅ Não é sobre resultados, é sobre legado.
✅ Não é sobre status, é sobre impacto humano.
🤔 Pergunta para você….
Você lidera com propósito… ou apenas com ego?