“No mundo corporativo, a culpa muitas vezes antecede a acusação — e o veredito chega sem que você saiba o motivo.”
A leitura de O Processo, de Franz Kafka, anos atrás, nunca mais saiu da minha mente. Aquela sensação de impotência vivida por Josef K. — acusado de um crime que nunca é revelado, dentro de um sistema tão burocrático quanto invisível — ecoou em mim como um alerta. Hoje, como mentor e coach executivo, observando estruturas organizacionais opacas, avaliações de desempenho desconectadas da realidade e lideranças ausentes, percebo: o romance de Kafka não é só uma ficção surrealista — é um retrato perturbador do que muitos profissionais vivem em silêncio.
Neste artigo, proponho refletir sobre o que O Processo nos revela sobre a cultura corporativa tóxica, a gestão de pessoas, a segurança psicológica no trabalho e o papel da liderança executiva humanizada em tempos de ambiguidade e medo institucional.
✅ 1. Conecte-se comigo no LinkedIn
✅ 2. Clique aqui para conhecer o serviço de Team Coaching
📘 Resumo da obra: a culpa sem rosto
Em O Processo, Franz Kafka narra a história de Josef K., um bancário que é preso — embora não fisicamente — por uma autoridade judicial que nunca se revela completamente. Ele é acusado de um crime que não lhe é informado. O que se segue é uma jornada absurda por corredores de tribunais improvisados, diálogos labirínticos, personagens que parecem saber mais do que dizem (e menos do que fingem), e um clima constante de insegurança jurídica e moral.
Kafka criou uma metáfora poderosa para sistemas autorreferentes, burocracias insanas e culturas baseadas na culpa difusa. E isso, infelizmente, é mais comum no mundo corporativo do que gostaríamos de admitir.
💼 Por que falar sobre isso no mundo corporativo?
Porque muitas empresas ainda funcionam sob lógicas kafkianas: decisões que ninguém sabe quem tomou, regras não escritas, avaliações subjetivas, punições veladas, e uma constante sensação de que “algo está errado” — mas ninguém tem coragem de dizer.
Essa ambiguidade gera medo organizacional crônico. E o medo paralisa. Profissionais que vivem em estruturas assim adotam comportamentos defensivos, evitam inovar, silenciam opiniões e internalizam uma culpa que não é deles — mas do sistema.
Como mentor executivo, vejo muitos profissionais de alto potencial travados por essa cultura de julgamento invisível.
🧠 Cases reais: quando Kafka entra na sala de reunião
✅ Case 1: A demissão sem explicação
Uma gerente de marketing de uma multinacional brasileira foi desligada após uma sequência de bons resultados. Surpresa, perguntou o motivo. A resposta: “não encaixa mais na cultura”. Nenhuma explicação adicional. Dias depois, descobriu que sua postura ativa em reuniões incomodava líderes conservadores. Ela nunca foi informada disso.
Resultado: clima de medo na equipe e perda de confiança na liderança.
✅ Case 2: O comitê invisível
Em uma consultoria global, um analista foi informado de que “não havia sido aprovado” na rodada de promoções, mesmo com avaliações positivas. Ao perguntar quem decidiu, ouviu: “um comitê”. Quando pediu feedback, disseram que “não era possível divulgar os critérios”.
Resultado: sensação de injustiça e desengajamento progressivo.
✅ Case 3: A auditoria punitiva
Em uma instituição financeira, uma gestora foi acusada publicamente por um “relatório de compliance” sem direito a defesa prévia. Ao tentar se explicar, foi chamada de “reativa”.
Resultado: clima de vigilância e retração comportamental na liderança intermediária.
🧭 Recomendações para líderes e mentores executivos
Como mentor e coach executivo, entendo que a transformação de culturas corporativas exige coragem — e começa na liderança. Aqui vão práticas essenciais:
- Torne o invisível, visível.
Toda decisão precisa ter autores, critérios claros e espaço para escuta. - Feedbacks precisam ser objetivos e construtivos.
Palavras genéricas como “perfil inadequado” ou “postura” sem contexto alimentam o medo. - Estabeleça um código de segurança emocional.
Profissionais não devem temer perguntar ou errar. Inovação nasce da confiança. - Humanize os processos de desligamento.
Clareza e respeito não são opostos. Dizer a verdade com empatia é um dever da liderança madura. - Forme líderes com coragem moral.
Mentores, coaches internos e RH devem fortalecer líderes para enfrentar o “não dito”.
🔍 Quem está escrevendo seu processo?
Você já se viu em uma situação onde estava sendo avaliado por algo que não compreendia? Já sentiu que suas decisões estavam sendo julgadas por um “tribunal invisível”? Que sua trajetória estava sendo narrada por outros — sem sua participação?
Se sim, talvez você esteja vivendo um capítulo kafkiano da sua carreira.
E se for líder, mentor ou gestor de pessoas, talvez esteja com a caneta na mão — com a chance de reescrever essa história, agora com clareza, ética e coragem.
✅ 5. Clique aqui para conhecer o serviço de Grupos de CEOs e Empresários