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Executivos alpinistas

” O topo da inteligência é alcançar a humildade”

texto judaico

Os noticiários, e não poderia ser diferente, tem dedicado quase que a totalidade de seu espaço ao vazamento da barragem de detritos de mineração da Cia Vale no município de Brumadinho.

Neste cenário, uma outra notícia que praticamente passou despercebida refere-se à constatação da morte de dois alpinistas brasileiros, um mineiro e outro capixaba, que estavam desaparecidos há cerca de duas semanas ao escalar o monte La Silla na Patagonia Argentina.

O risco é parte da rotina de alpinistas que estão sempre em busca de superar desafios; estes riscos podem ser classificados em duas categorias:

  • subjetivos que são previsíveis e por isto evitáveis e que, podem ser neutralizados e controlados através de medidas preventivas como planejamento adequado, preparação física e conhecimento técnico entre outros
  • objetivos: não previsíveis e fora de controle como chuva e ventania, por exemplo.

Acidentes com alpinistas profissionais e treinados geralmente ocorrem por fatores objetivos, ou seja, por fatores externos e fora de controle como foi o que foi o caso dos dois alpinistas brasileiros. Por outro lado, acidentes decorrentes de fatores subjetivos – aqueles que poderiam ser evitados – via de regra acontecem com aventureiros.

Este é um paralelo interessante e que deve ser levado em conta para entender as causas de mais uma tragédia ambiental que ceifou centenas de vidas humanas.

Os executivos alpinistas aventureiros da Cia Vale, como muitos no mundo corporativo, tinham como objetivo atingir o topo, neste caso, representado por resultados financeiros excepcionais (como de fato foram no último trimestre), valor de mercado recorde e, como consequência…..aumentar suas contas bancárias através de remuneração variável (bônus + “stock options”). Se fossem bons alpinistas saberiam que os riscos objetivos não poderiam ser controlados, mas que seria possível, através de ações concretas adotar medidas para eliminar os riscos subjetivos que, ao que tudo indica, foram a causa de mais esta tragédia. Mas… a vaidade falou mais alto do que a humildade e a ganancia prevaleceu

Após três anos de desastre semelhante em Mariana MG sem que nenhuma providência de indenização ou ajuda às vítimas, que continuam a depender de favores da comunidade, tivesse sido anunciada, as aparições e pronunciamentos do presidente da Cia Vale foram absolutamente patéticos – “ir além e acima” e “vamos criar um colchão de segurança para garantir que nunca mais aconteça um negócio desse” dentre outras asneiras.

Espera-se, pois, que no império da impunidade, providencias que levem à efetiva punição dos responsáveis – os alpinistas aventureiros – com perda de patrimônio e liberdade sejam efetivamente adotadas pois são criminosos e como tal devem ser tratados. Se isto não ocorrer, convém lembrar o poema profético de Carlos Drummond de Andrade escrito em 1984.

O Rio? É doce.
A Vale? Amarga.
Ai, antes fosse
Mais leve a carga.
Entre estatais
E multinacionais,
Quantos ais!
A dívida interna.
A dívida externa
A dívida eterna.
Quantas toneladas exportamos
De ferro?
Quantas lágrimas disfarçamos
Sem berro?

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