Quando a esperteza vira armadilha…
Nem toda troca é sinal de progresso. Há pessoas que, em nome da esperteza, abandonam o que tem valor por promessas passageiras — e ainda celebram isso como estratégia.
Neste artigo uso a fábula “João Esperto”, dos Irmãos Grimm, para refletir sobre decisões no mundo corporativo, vaidade disfarçada de genialidade e como a mentoria executiva pode ajudar líderes a parar de trocar ouro por pedras.
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Nem toda troca é progresso. Às vezes, o que parece esperteza é apenas o início da perda.
Entre as dezenas de fábulas dos Irmãos Grimm, poucas retratam com tanta ironia a natureza humana quanto João Esperto. A história do homem que parte com uma barra de ouro e termina com… nada, acreditando ter feito os melhores negócios possíveis, é uma metáfora atemporal sobre escolhas, ilusões e autoengano.
E se olharmos com atenção, veremos que muitos profissionais e empresas, ainda hoje, seguem exatamente o mesmo roteiro — trocando o que realmente tem valor por promessas momentâneas.
A fábula de João Esperto: do ouro à ilusão
João, herdeiro de uma barra de ouro, parte em viagem disposto a transformá-la em algo mais “útil”. Encontra um cavaleiro e troca o ouro por um cavalo. Mais à frente, troca o cavalo por uma vaca, depois por um porco, um ganso… até acabar com uma pedra de amolar.
Quando a pedra cai e se perde no rio, João sorri: “Que alívio! Agora estou livre desse peso!”.
Ele volta para casa convencido de que é o homem mais sortudo do mundo.
O problema não é a ingenuidade de João. É sua incapacidade de perceber que está regredindo — e ainda assim celebrar o resultado.
As trocas invisíveis do mundo corporativo
No mundo dos negócios, muitos “Joões” modernos trocam seus “ouros” todos os dias — sem perceber.
- Líderes que sacrificam propósito em troca de status.
- Empresas que trocam credibilidade por lucros imediatos.
- Profissionais que abrem mão de autenticidade para agradar o sistema.
A “esperteza” moderna tem novas roupagens: métricas infladas, atalhos éticos, decisões tomadas por conveniência. Mas o resultado é o mesmo — a perda gradual da essência e do valor real.
O autoengano como estratégia
O grande talento de João Esperto não era negociar — era justificar suas perdas. Cada troca era acompanhada de uma história convincente: “O cavalo é melhor que o ouro, porque posso viajar!”, “A vaca é melhor que o cavalo, porque dá leite!”…
Quantas vezes fazemos o mesmo? Nos convencemos de que decisões limitantes são “estratégicas”, que o desconforto é “necessário” ou que a falta de propósito é “maturidade”.
Esse mecanismo de autojustificação é comum em líderes sob pressão. Em vez de reconhecer a perda, racionalizam. E assim se afastam, pouco a pouco, de quem realmente são.
Exemplo real: a ilusão de grandeza e o caso Eike Batista
O Brasil conheceu um “João Esperto” em escala bilionária: Eike Batista. Durante anos, Eike foi celebrado como o “homem mais rico do país”, símbolo de ousadia e sucesso. Mas sob a narrativa de genialidade e visão empreendedora, havia trocas perigosas — transparência por espetáculo, prudência por ambição desmedida, confiança por autoengano.
Quando o castelo de promessas desmoronou, o império X revelou-se o que sempre foi: uma ilusão sustentada por expectativas, não por fundamentos.
A fábula moderna se repetiu. O brilho inicial deu lugar ao vazio. E, como João, Eike seguiu afirmando que “tudo fazia parte do jogo”.
A lição para líderes e organizações
O verdadeiro perigo da esperteza não é perder o ouro — é não perceber que o perdeu. O mundo corporativo está cheio de decisões aparentemente racionais que, vistas de perto, são apenas versões sofisticadas da fábula:
- Executivos que “otimizam” custos demitindo talentos estratégicos.
- Empresas que sacrificam cultura em nome da velocidade.
- Gestores que trocam colaboração por controle.
Essas trocas, embora pareçam inteligentes no curto prazo, corroem o tecido de confiança, inovação e propósito que sustenta qualquer negócio saudável.
O papel da mentoria: o espelho que João nunca teve
Se João tivesse um mentor, talvez sua história fosse diferente. Alguém que o ajudasse a refletir antes de trocar, a enxergar valor de longo prazo, e principalmente — a questionar suas próprias narrativas.
É exatamente isso que um processo de mentoria executiva faz:
- Ajuda líderes a identificar onde estão trocando valor real por recompensas simbólicas;
- Estimula a autoconsciência e a visão sistêmica;
- Promove a coragem de fazer o caminho inverso — de reconstruir a autenticidade e o propósito.
Na ausência desse olhar externo, a mente humana faz o que sempre fez: cria justificativas convincentes para continuar no mesmo lugar.
Da esperteza à sabedoria
O oposto da esperteza não é a ingenuidade — é a sabedoria. A esperteza foca em vencer agora. A sabedoria pensa no que permanecerá depois.
Líderes verdadeiramente sábios compreendem que o valor não está em acumular trocas, mas em preservar o que é essencial: confiança, propósito, integridade, e o impacto que deixam nas pessoas e nas organizações.
O espelho de João
No fim, João Esperto é mais do que uma fábula — é um espelho. Cada um de nós, em algum momento da carreira, já trocou algo valioso por conveniência. O desafio é reconhecer quando estamos repetindo o mesmo padrão — e ter coragem de parar.
Como mentor, vejo todos os dias profissionais brilhantes descobrindo que, para recuperar o ouro que perderam, o primeiro passo é admitir que o deixaram cair no rio.
E você? Está construindo uma jornada de valor duradouro — ou apenas fazendo trocas que parecem vantajosas?
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