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O paradoxo das competências

” O sucesso em qualquer campo, mas especialmente nos negócios, é trabalhar com pessoas, não contra elas”

Keith Ferrazzi autor do livro Nunca Almoce Sozinho

Muito se tem falado e escrito sobre fatores que podem alavancar carreiras ou, em outras palavras, quais as competências necessárias para assegurar alto desempenho e, consequentemente, levar profissionais às posições mais elevadas na pirâmide organizacional.

Isto me traz uma lembrança – nos anos 80 quando cursava pós-graduação na FGV – ocasião em que, na primeira aula da disciplina de Teoria Geral da Administração o professor questionou qual seria o fator mais importante para que aspirantes a executivos atingissem altos postos nas organizações – ou chegar ao “C Level”. Após quase duas horas de debates acalorados e muitas respostas à questão – todas em geral ligadas ao domínio do conhecimento técnico  (informática, finanças, produção, marketing etc) a aula foi encerrada e o professor simplesmente disse: “ Vocês estão errados: formação técnica e conhecimento teórico é obrigação mas o que efetivamente leva executivos ao topo da organização é o relacionamento interpessoal; pensem nisto!”.

Muitos profissionais ainda acreditam que basta investir tempo e recursos na  formação acadêmica, em cursos de aperfeiçoamento e extensão para ter a garantia de sucesso profissional; sim isto é parcialmente verdadeiro além do que as rápidas mudanças na área do conhecimento exigem dos profissionais de todas as áreas reciclagem constante e contínua através de novos cursos, palestras, seminários, networking e, principalmente através do bom hábito de leitura – um CEO nos Estados Unidos lê em média 60 livros por ano , ou seja mais de um livro por semana. Se não seguir esta regra básica o profissional tornar-se-á rapidamente obsoleto para o mercado e, aqui, convém lembrar o que disse Benjamin Franklin há mais de 200 anos: “investir em conhecimento rende sempre os melhores juros”. Entretanto, competência técnica por si só não é garantia de sucesso.

Creio oportuno fazer a separação entre competências e habilidades em todas as áreas do campo profissional.

Competências referem-se às ferramentas indispensáveis ao exercício da função e, atualmente são chamadas de “HARD SKILLS” e estão diretamente ligadas à Tecnologia, Conhecimento e Ciência; são, também, padronizadas, especializadas, replicáveis, previsíveis e tangíveis

As habilidades ou “SOFT SKILLS”, por outro lado, são essencialmente comportamentais e envolvem, fundamentalmente, pessoas, são situacionais e dependem da prática, da intuição e do bom senso.

Assim como na cultura oriental onde o princípio da dualidade representada pelo Yin e Yang, duas forças opostas e complementares se unem para formar um todo equilibrado e dinâmico, a combinação entre Hard Skills e Soft Skills são complementares e essenciais para o bom desempenho e avanço na carreira.

Dentre as várias habilidades que compõe o conjunto definido como Soft Skills pode-se selecionar algumas delas:

Empatia: O pilar do bom relacionamento; respeitar a perspectiva do outro

Comunicação: Escuta global e capacidade para transmitir ideias

Criatividade: Disciplina para questionar, estudar e aprender, ousar e errar

Organização: da mente e do ambiente

Negociação: Relação de troca e a capacidade de eliminar pontos divergentes

Motivação: Amando aquilo que se faz

Engajamento: Comprometimento individual a um esforço conjunto

Ensinar e aprender: Humildade para aprender e disposição para ensinar

Conforme dito acima a combinação adequada de competências (Hard Skills) e habilidades (Soft Skills) é fundamental nas posições de liderança onde o maior desafio é lidar com pessoas.

E aí está o paradoxo! Entre os executivos brasileiros:

(segundo a professora e consultora Betania Tanure no prefácio do livro “A Arte e   Ciência do Coaching” de Marylin Atkinson)

15% tem apenas as habilidades soft: são como um urso no topo de uma arvore – ninguém sabe como chegou lá, mas todos sabem que vai cair.

68% tem apenas as competências hard: são extremamente bem preparados e na maioria das vezes formados por excelentes universidades com extenso currículo acadêmico, porém agem como um elefante em loja de cristais quando lidam com pessoas.

e,

Apenas 7% estão no patamar de harmonização entre competências e habilidades: estes são os executivos efetivamente preparados e em condições plenas de gerir negócios e com visão de futuro para conduzir as mudanças que virão com a 4ª revolução industrial.

Como a soma acima é de 90% pode-se deduzir que os 10% restantes não tem nem competências e nem habilidades necessárias para ocupar cargos executivos e sobre estes não vale a pena comentar….

Então, o que fazer? Existem cursos de extensão que ensinem Soft Skills ou um MBA com esta especialização? Infelizmente não! Este é um aprendizado que passa, em primeiro lugar, pela aceitação de que competências precisam ser complementadas por habilidades de relacionamento pessoal – e, muitas vezes, isto ocorre através da dor como, por exemplo, uma demissão ou por ter sido preterido em uma promoção. A partir daí o autoconhecimento e o auto desenvolvimento através, principalmente, do bom habito da leitura exerce um papel fundamental; deve-se, em adição, observar e seguir bons exemplos ( e maus, também, para assimilar comportamentos nocivos e tóxicos) e, também, exercitar consistentemente o networking profissional, frequentar palestras/seminários/treinamentos específicos sobre o tema e, ainda, passar por processos de coaching/mentoria conduzidos por profissionais qualificados e experientes.

Somente um profissional que além de se dedicar a um processo continuo de aprendizado e dotado das habilidades de Soft Skills estará apto a explorar todo o seu potencial de competências e desta forma ter a capacidade de questionar, de ter a mente aberta e disposto a abraçar mudanças, de ter iniciativa e confiança e, assim, influenciar de forma positiva todos a seu redor.

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